Nessa viagem de 1.422 quilômetros, o
objetivo foi visitar a Unidade Militar em Alegrete (RS) onde prestei serviço em
1973 e, no retorno, irmos até Rivera, no Uruguay.
O
primeiro trecho da viagem:
O dia 19 de Novembro de 2008 já estava
amanhecendo quando empurrei a moto carregada para fora da garagem.
Pretendíamos sair mais cedo e na
estrada encontrarmos o Sol surgindo no horizonte, mas não foi possível. Mesmo
assim, o início da viagem não perdeu o brilho. A sensação de ganhar a estrada cedo
da manhã é um grande privilégio.
Logo
na saída da cidade, um grupo com suas vestes tradicionais de gaúcho, montados
em seus cavalos, circulava pelo acostamento da estrada. Como já acontecera das
outras vezes, ao passarmos por eles acenamos.
Pelo espelho, vimos que alguns correspondiam
ao aceno, enquanto outros, à nossa frente, voltavam o olhar em nossa direção,
admirados, assim como nós. Por alguns breves instantes, acredito que eles,
assim como nós, sentiram uma cumplicidade facilmente explicável.
Passado
o Posto da Polícia Rodoviária Estadual, aceleramos, abrindo caminho, numa
ultrapassagem tranqüila.
O barulho do vento quebrando o
silêncio, o turbilhão de pensamentos, passaram a ser a nossa companhia.
Como em todas as manhãs, mesmo no
verão, há uma brisa fria, mas isso não nos incomodou e continuamos rodando.
Em Panambi, a cerca de 200 quilômetros de
casa, paramos para nos aquecermos com um lanche e um bom café.
Depois do lanche, seguimos até Ijuí,
descendo até Jóia, em direção a Santiago.
Lavouras de milho, de girassóis, de
trigo recém colhido, formavam a belíssima paisagem.
Chegamos a Santiago para o almoço,
depois de termos enfrentado poeira em um trecho de aproximadamente cinco
quilômetros que desviava a entrada da cidade. Estavam pavimentando o acesso.
Na saída de Santiago a atitude por
parte de um motorista conduzindo uma carreta, nos revoltou. Estávamos
trafegando um atrás do outro, bem próximos ao limite direito da nossa pista,
quando surgiu essa carreta nos pressionando para avançarmos mais rápido do que
a sinalização permitia. Esse motorista buzinou, ameaçando avançar contra as motos,
porque estava com pressa e queria fazer o retorno.
Mas não generalizemos. Na estrada há de tudo.
Passamos por tantos outros caminhoneiros que nos davam sinal de luz ou nos acenavam. Talvez, nesse momento, quisessem estar em nosso lugar.
Talvez até, algum deles, tivesse deixado sua moto na garagem e esperava ansiosamente voltar da viagem para montá-la.
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Alegrete:
Depois de cruzarmos a ponte na saída
de Manoel Viana, fomos em direção a Alegrete por mais 40 quilômetros .
Procuramos a Pousada Alegrete, onde
geralmente se hospedam motociclistas que participam dos Encontros que
anualmente são promovidos. Encontros que tem a participação dos moto grupos da
cidade e cuja organização está a cargo do sempre dedicado Cabo Rota. A ele,
deixo um forte abraço, extensivo a toda a equipe que organiza esses eventos.
A ida a Alegrete tinha como objetivo
fazer uma visita ao 6º Regimento de Cavalaria Blindada, onde prestei serviço
militar em 1973. Infelizmente não podemos entrar, embora ainda fosse durante o
dia (final da tarde), pelo simples fato de que não é permitida a entrada de
pessoas usando bermuda (estávamos de bermuda, tênis, camiseta...).
Retornamos à cidade e fomos fazer um
lanche no quiosque da praça. O mesmo quiosque onde, há mais de 30 anos, eu e alguns
amigos, tomávamos uma cervejinha quando estávamos de “folga”. Onde estariam
agora aqueles amigos? Por alguns momentos, enquanto caminhava pela praça, fui
tomado de um sentimento de nostalgia por aquele tempo; um tempo que não volta
mais, comentei com o Jacson.
Lembrando do serviço militar, devo
dizer que, embora não tenha engajado, é uma grande escola para a vida. O
contato com a disciplina, a hierarquia, o preparo físico os treinamentos que impõe
esforço físico e sofrimento psicológico, produzem no indivíduo, de uma forma
muito mais rápida, um sentimento de valorização do ser humano, de amadurecimento
para a vida, de companheirismo, de respeito e amor à Pátria e aos seus símbolos
(o que falta à maioria dos políticos, cujas ações são motivadas pelo jogo de
interesses escusos em proveito próprio ou de grupos, provas da falta de
patriotismo e da falta de respeito ao cidadão).
Ainda no quiosque, tiramos umas fotos
e, em seguida, retornamos à pousada para um descanso, até a hora da janta.
Como na pousada havia um conterrâneo
hospedado, representante comercial; aproveitamos a carona e fomos em seu carro
jantar em uma pizzaria.
No dia seguinte, às oito horas da
manhã, após o café, pegamos a estrada em direção a Rosário do Sul, 110 quilômetros
adiante.
Lavoura de arroz |
Em Rosário, após abastecermos as
motos, tomamos a direção de Santana do Livramento, onde uma praça divide dois
países: Brasil e Uruguay.
São 120 quilômetros
praticamente de retas, ladeada por campos, onde se vê extensas criações de
gado, de ovelhas e eventualmente, alguma lavoura.
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Em
Rivera, Uruguay:
De um lado, Rivera, no Uruguay; do
outro, Santana do Livramento, Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul.
Uma praça divide dois países e duas
cidades.
Praticamente se confundem, não fossem
os Free Shoppings de Rivera, com seus prédios modernos, oferecendo artigos
importados: perfumes, vinhos, eletrônicos. Na maioria das lojas, aceitam
pagamentos com cartões de crédito, mas todas aceitam reais ou pesos uruguaios.
No entanto, algumas lojas que não aceitam qualquer tipo de cartão aceitam
cheques de brasileiros.
Não há necessidade do Seguro
“Carta-Verde” para atravessar a fronteira até Rivera.
Sabíamos que alguns hotéis em Rivera
não servem café-da-manhã e, para não perdermos tempo em procurar, nos
hospedamos em um hotel em Santa do Livramento a cerca de três quarteirões da
divisa a um custo de R$ 80,00 com café-da-manhã.
Descarregamos as motos no hotel e
fomos almoçar o tradicional “buffe” brasileiro em Livramento.
Depois do almoço, um passeio pela
“praça das duas nações” e, depois, conhecer algumas lojas em Rivera, comparar
preços e variedades.
Brasão de Armas do Uruguay |
Brasão de Armas do Brasil |
No final do dia, havíamos carregado a moto com algumas coisinhas, garrafas de vinho, tequila, amarula (enroladas, cada uma em três folhas de jornal. Não, não é nenhuma “simpatia” (três folhas de jornal). Se fosse, não teríamos quebrado uma garrafa de run que estava “bem firme” no baú.
A tarde estava quente e estávamos com sede, o que resultou em uma pausa para um bom lanche no centro de Rivera, enquanto as pombinhas ficavam com as migalhas que jogávamos ao chão.
Antes de retornarmos ao hotel e, antes
do Sol se pôr, outro passeio. Dessa vez, pelo centro de Santana do Livramento,
com uma parada para fotos da Igreja Matriz e do coreto abandonado, na praça em
frente.
Retornando ao hotel, arrumamos as
coisas nos alforjes e depois de um bom banho, como já estava escurecendo, nos
preparamos para o jantar.
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Volta
de Rivera:
Dia seguinte, 21 de Novembro, iniciamos
o retorno sob um Céu azul e ventos laterais.
Em alguns momentos, rajadas de vento
nos empurravam para o meio da estrada. Era com muito esforço que retornávamos à
nossa pista. Vento esse que nos castigou durante toda viagem de volta para casa.
Havíamos programado irmos por Cacequi,
a partir de Rosário. Trecho que eu já conhecia, cheio de buracos.
Já estava resignado, quando, em um Posto de Abastecimento
em Rosário, um frentista nos informou que, seguindo uns quatro quilômetros
depois do primeiro trevinho (que indicava Cacequi), há outro trevo que dá
acesso a Azevedo Sodré. Por esse trajeto, afirmava, encurtaríamos a distância a
Santa Maria em cerca de 40
quilômetros , por uma estrada nova e recém sinalizada.
Foi o que fizemos e a escolha não podia ter sido melhor, confirmando a
informação.
Identificamos esse como o melhor
trajeto, saindo de Rivera: Rosário do Sul-Azevedo Sodré, pela BR-158, até Santa
Maria. Depois, ainda pela BR-158, até Cruz Alta. A partir de Cruz Alta, pela
BR-223, Ibirubá, Selbach, Tapera, Tio Hugo. Em seguida, pega-se a RS-135, em direção
a Passo Fundo e Erechim, completando 605 km .
Chegamos ainda cedo do dia em Erechim
(cinco da tarde).
Não sentíamos cansaço. Apenas a
satisfação marcada por um largo sorriso e a certeza de que ainda dividiríamos
muitas aventuras.
E como sempre acontece depois do retorno, nos
aproximamos (pai e filho) para um abraço forte, antes de cada um seguir para
sua casa; abraço para marcar mais uma jornada vencida; para agradecer um ao
outro a satisfação de tantos momentos compartilhados e a Deus por ter estado
sempre conosco.
DISTÂNCIA PERCORRIDA:
ERECHIM-ALEGRETE
(ida): 567 km
ALEGRETE-RIVERA(UR): 250 km
RIVERA(UR)-ERECHIM
(volta): 605 km
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